Degustação – Chocolate [Meu Amor é um Sobrevivente]

Diferente das histórias de terror que costumo escrever, Chocolate, conto presente na antologia Meu Amor é um Sobrevivente, da Editora Draco, é a história de um romance adolescente em meio a uma situação extrema: um apocalipse zumbi. Após perder toda sua família, a jovem Luciana encontra abrigo em um supermercado, junto a Fabrício, um jovem com o coração tão ferido quanto ela e seu simpático e gentil avô, Antonio. Em meio ao horror e à tristeza, poderia florescer um amor doce e meio amargo como chocolate? Essa é a proposta do conto e também da antologia Meu Amor é um Sobrevivente, organizada por Ana Lúcia Merege e Janaina Chervezan, repleta de contos de romance distópicos de várias autoras nacionais. O livro está à venda em formato físico ou digital.

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Ficou curioso? Então que tal uma degustação da história? Leia a primeira parte dela, aqui no blog, de graça, ou no Wattpad!

Meu Amor é um Sobrevivente – Chocolate

Karen Alvares

Conto da antologia Meu Amor é um Sobrevivente. Luciana perdeu tudo: família, sonhos e expectativas. Encurralada por zumbis em um supermercado ela conhece Fabrício, outro jovem que também perdera a esperança. Juntos eles descobrirão que a vida ainda pode ser doce como chocolate.

Todos os direitos reservados à Editora Draco
Publisher: Erick Santos Cardoso
Produção editorial: Janaina Chervezan
Organização: Ana Lúcia Merege e Janaina Chervezan
Revisão: Eduardo Kasse e Ana Lúcia Merege
Capa: Ericksama, Dana Guedes (foto)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ana Lúcia Merege 4667/CRB7

Chocolate

por Karen Alvares

Minha história de amor começa no lugar mais sem graça do mundo: um supermercado. Pior, nos fundos dele, no estoque. Vamos concordar que não é nenhum cenário de um filme de romance de Hollywood, certo?

Como se isso não fosse o suficiente, ainda preciso acrescentar um pequeno detalhe: talvez seja difícil para você acreditar no que eu vou falar agora, mas pode ter certeza de que é a mais pura e cruel realidade. Estamos no meio de um apocalipse zumbi.

Se você me pedisse agora mesmo para explicar exatamente como essa loucura aconteceu, eu não saberia por onde começar. Pelos mortos levantando dos túmulos como se estivessem no meio do clipe Thriller? Ou pelo completo caos nas comunicações e nas ruas? Os congestionamentos absurdos (se é que existe algum congestionamento que não seja absurdo em São Paulo)? A falta de comida? O desespero, a gritaria, o horror? Ou os milhares de corpos?

Talvez eu comece simplesmente dizendo que, naquele exato momento em que a minha história de amor começou (e aqui você me pergunta “Como é possível uma história de amor no meio de todo esse caos?” Bem, só posso dizer que também nunca imaginei que isso fosse possível, mas aconteceu), eu estava arrasada. Naquele momento eu estava devastada e tinha perdido tudo. Minha mãe… meu pai… minha irmã mais nova. Meus amigos. Minha vida. Sim, minha vida, porque eu estava apenas sobrevivendo, mas aquilo não era vida.

Até que Fabrício apareceu.

Mas antes de falar dele, vamos falar sobre mim. Eu gosto de falar sobre mim. Dizem que dá mais prazer falar sobre a gente do que ganhar dinheiro e, putz, do jeito que a minha vida ultimamente é uma sequência de desgraças, eu bem que tenho direito a algum prazer, você não concorda?

Meu nome é Luciana, muito prazer. Eu tenho 16 anos – quase 17 –, e há menos de duas semanas estava no último ano do colégio, já me preparando para o vestibular. Esperava que esse ano fosse louco, mas não tanto. Eu era só uma garota, talvez meio nerd (sabe, aquelas que gostam de jogar videogame, acompanham séries americanas e leem 40 livros por ano?), mas ainda assim uma garota, com uma casa, família, amigos, uma vida e até mesmo sonhos. Também tive algumas paixonites na escola, nada que realmente tenha dado certo. Sou o tipo de garota que se um garoto diz que está a fim, certeza que deve ser gozação. Sou meio fora do peso também, quer dizer, eu era… Acho que emagreci depois dessa catástrofe, afinal tudo o que eu como são as poucas porcarias que encontro por aí.

Vocês já estão percebendo porque minha história começa em um supermercado, não é? Quer dizer, antes de preencher o vazio em meu coração minha prioridade era encontrar algo para preencher o vazio no meu estômago.

Nos dias de hoje, em que corpos fedorentos que supostamente deveriam estar mortos estão por aí caminhando pelas ruas em uma versão bizarra e real de Resident Evil – bem, ao menos ainda não encontrei nenhuma planta infectada, graças a Deus -, eu sou uma pessoa diferente: roupas sujas e esfiapadas, um pouco mais magra, algumas cicatrizes, uma mochila rosa das Meninas Superpoderosas nas costas (pertencia a minha irmã) e a enorme faca de churrasco do meu pai sempre na mão direita.

Não sou assim a pessoa mais competente do mundo para matar zumbis, mas até que faço o que posso. Matei uns 2 ou 3 no caminho com o facão – papai ficaria orgulhoso. Mas naquela manhã do décimo segundo dia eu estava exausta. Não tenho vergonha de admitir: estava surtando. Sozinha há quase dez dias (minha família se foi logo no começo), confusa, cansada, com fome, sede… Digamos que os zumbis em um mundo real não são tão divertidos quanto nos games. A vida era horrível e sombria naqueles dias. Estava triste e com muita saudade e, quando três zumbis me encurralaram nos fundos de um mercado nos arredores do bairro da Saúde, estava também prestes a desistir.

Segurava debilmente o facão de meu pai na mão direita, só que dessa vez tremia ainda mais que nos primeiros dias. Os zumbis que queriam me comer no café da manhã aparentavam ser uma família… Havia a mãe, uma mulher meio gordinha, com um vestido florido manchado de sangue, um braço faltando e um buraco enorme e horrível no estômago; o pai, um homem pequeno vestindo um terno cinza-agora-vermelho todo esfiapado: faltava- lhe um olho, onde agora só havia um buraco negro e profundo. Por último, havia o menino… Apenas um menino, de sete ou oito anos; ele ainda usava uma camiseta estampando o Cebolinha, da Turma da Mônica, andando de skate. Eu conseguia ver que parte da sua cabecinha estava faltando – era possível enxergar os miolos escorrendo por suas costas como macarrão cozido.

A minha família ficou daquele jeito. Eu os matei.

E agora eu queria morrer.

Continua…

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Comments
2 Responses to “Degustação – Chocolate [Meu Amor é um Sobrevivente]”
  1. Adorei o que li, e não sei por que, mas tive a impressão que a Luciana tem um pouco de Karen. Tô errado?

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